A chuva cai sob meus ombros, quase levando consigo minhas esperanças. Subindo por um caminho sem fim, me levando à escuridão. Com muita dor e sofrimento, escalo essa montanha de desejos, em busca de minha liberdade.
Vejo luzes ao longo do caminho escuro. Um sorriso é a única coisa que eu consigo expressar, mas no fundo um peso sai dos meus ombros, como se ao longo do caminho até aqui, carreguei a escravidão.
Finalmente me libertei. Há pessoas de minha cor caminhando livremente sem medo, praticando suas crenças, sentindo uma coisa que já não sentiam há muito tempo: a felicidade.
Descobri o nome do paraíso em que estava: Quilombo, onde todos podem ser livres e felizes. Sinto a natureza ao meu redor, o canto dos pássaros e o som da chuva batendo ao chão. Vejo a vida que posso ter no futuro nesse incrível lugar: recomeçar, aprender a viver novamente.
Luiza Flosi e Vinícius Takemi
Respiro. O ar fresco renova minha energia. Fecho os meus olhos e me sinto envolvida pela nostalgia. Imagino a força e o empenho necessário para carregar quilos de ouro por longos quilômetros.
Posso observar detalhes da natureza jamais vistos com meus olhos. Neste lugar é possível sentir uma conexão com a vida. A cada passo relembro como este caminho de terra asfaltado com pedras, dos séculos passados, cobertas de limo escorregadio, foram capazes de mudar a história de nosso amado país.
O caminho é íngrime. Escorrego a cada passo. Ouço o farfalhara das folhas e o canto dos pássaros, cada vez me encantando mais. Pensar nos escravos sendo tratados como burros de carga me chateia. Um lugar tão maravilhoso não deveria ter sido palco de tais cenas.
Marina e Nicole
Uma palavra, onze letras, muita luta e um significado. Resistência.
Justiça é tudo o que queriam. Anos de luta. Anos de dor. No final conseguiram um espaço. Uma liberdade.
Quilombo.
O povo derruba. Eles se levantam.
Para seguir suas tradições, seus costumes, sua glória. Um pedaço da África se reconstruiu no Brasil.
Bater no peito e se orgulhar da sua cor, herança e cultura.
Não devemos deixar nossas diferenças nos afastar. Juntos, lutarmos pelos nossos ideais, certos de que a história do nosso povo constitui quem somos hoje.
Beatriz Lopomo e Letícia
Nesse caminho nós andamos muito para sentir a mesma emoção que os mineradores. 2,5 km. Estava chovendo, sentimos os musgos, sentimos as pedras, sentimos a natureza durante o percurso.
Sentimos uma volta ao tempo constante. Sentimos como se estivéssemos naquela época, sentimos o vento batendo em nosso corpo, sentimos a natureza por inteiro.
Erick Sato
Entro e sinto a história me consumindo aos poucos.
Os caminhos de terra batida me lembram povo.
Cor da pele, cor da alma, cor do sangue, cor da raça.
Sou aos poucos quem sofreu, quem chorou, quem dançou, quem lutou.
Sou filho da África, criado do dotô.
Sou quem fugiu, quem chegou.
Sou pés, mãos, braços, pernas, percebo que sou humano.
Sinto, ouço, danço, corro para os braços de pessoas que hoje chamo de casa.
Danço o jongo, bato palmas, danço com eles, para eles.
Canto pelo dotô, danço pelo senhô, descarrego minhas dores, as dores da alma, das chibatadas.
O artesanato das almas trançam as cestas de meu povo.
Sou negro. Sou africano.
Sou das terras. Sou do meu povo.
Rezo para os meus deuses deixando de lado os deles.
Levanto minha cabeça e tudo não passou de um sonho.
Sou aluno, mas agora tenho em mim a história de meu povo.
Julia Ocanha e Milena Fornazari
A dança me fez sorrir. Vestimos saias compridas e floridas e montamos uma roda. A música era totalmente diferente do que eu estava acostumada. Cada letra possuia um significado diferente. Algumas eram simbólicas, algumas descreviam Paraty como um todo. As crianças requebravam com naturalidade e senti um pouco de dificuldade para imitá-las.
A comida era diferente do que eu estava acostumada. Quando comi, senti algo a mais no gosto, me remetia ao passado, me contava a história do lugar.
Estávamos num quilombo, o Campinho da Independência. Era um lugar tão simples, mas tão bonito... Um lugar onde eu poderia passar semanas e onde rapidamente eu me adaptaria à cultura das pessoas. Ficamos apenas algumas horas, mas foi o bastante para que eu me sentisse acolhida.
A paisagem me agradava...
Gabriela e Thamires
O caminho do ouro, é um lugar com história. Um lugar, onde muitas coisas aconteceram, boas e ruins. É certo que muitas pessoas morreram lá. Com isso as pessoas podem imaginar que é um lugar horrível. Mas estão enganadas: é um lugar maravilhoso! Lá caminhamos entre a densa floresta. Escutamos o doce som da natureza. Os raios de sol penetravam a densa camada de plantas, mas o pouco que atingia meu rosto, me aquecia. Enquanto andávamos no árduo caminho de terra, a monitora que estava conosco descrevia os fatos sobre o lugar. Admito que não prestei atenção. Eu estava tão concentrado na luz que iluminava, em feixes, a floresta, no som dos pássaros, no barulho dos macaco conversando. A sensação de que estávamos em um lugar puro quase palpável. Eu estava relaxado e de bom humor.
Havia pedras, com limo, o que tornava o caminho difícil, pois podíamos escorregar. Eu já estava ficando com fome e minha pernas começavam a fraquejar quando finalmente chegamos ao fim da trilha. Eu me sentia como se tivesse passado horas em contato com a natureza, como se fôssemos um só. Me sentia leve e tranquilo.
Mais tarde, já na pousada, íamos fazer uma atividade sobre a nossa experiência na trilha e percebi que enquanto eu me conectava com a natureza que estava ao meu redor havia perdido todas as explicações da monitora. Não me arrependo de nada.
Guilherme Rodrigues